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quinta-feira, 23 de maio de 2013

Consumismo

Consumir faz parte da vida em sociedade, precisamos consumir para dar conta de nossas necessidades e fazer a roda do desenvolvimento girar, contudo, exageradamente, sem questionamentos ou espírito crítico, este consumo pode deixar de ser positivo para tornar-se um consumismo desenfreado, onde se compra apenas com o intuito de pertencer a um grupo, deixando-se levar pelos apelos comerciais sem avaliar realmente nossas necessidades, abrimos mão de nossa liberdade de escolha consciente e entramos em uma corrente ardilosa, cujos interesses são meramente capitalistas, nos tornamos apenas um mercado em potencial.

Diante desta temática preocupante desenvolve-se um trabalho de sensibilização com os alunos do Ensino Fundamental no sentido de despertar para o consumo consciente, assim, as professoras Eliane Dalacosta e Fabiana Willenborg conjuntamente trabalharam o texto Eu, Etiqueta de Carlos Drummond de Andrade. Os alunos do 8º ano discutiram, ensaiaram o texto e o apresentaram para os demais alunos do Ensino Fundamental.



Eu, etiqueta
Em minha calça está grudado um nome
Que não é meu de batismo ou de cartório
Um nome... estranho
Meu blusão traz lembrete de bebida
Que jamais pus na boca, nessa vida,
Em minha camiseta, a marca de cigarro
Que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produtos
Que nunca experimentei
Mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
De alguma coisa não provada
Por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
Minha gravata e cinto e escova e pente,
Meu copo, minha xícara,
Minha toalha de banho e sabonete,
Meu isso, meu aquilo.
Desde a cabeça ao bico dos sapatos,
São mensagens,
Letras falantes,
Gritos visuais,
Ordens de uso, abuso, reincidências.
Costume, hábito, premência,
Indispensabilidade,
E fazem de mim homem-anúncio itinerante,
Escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É duro andar na moda, ainda que a moda
Seja negar minha identidade,
Trocá-lo por mil, açambarcando
Todas as marcas registradas,
Todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
Eu que antes era e me sabia
Tão diverso de outros, tão mim mesmo,
Ser pensante sentinte e solitário
Com outros seres diversos e conscientes
De sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio
Ora vulgar ora bizarro.
Em língua nacional ou em qualquer língua
(Qualquer, principalmente.)
E nisto me comprazo, tiro glória
De minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
Para anunciar, para vender
Em bares festas praias pérgulas piscinas,
E bem à vista exibo esta etiqueta
Global no corpo que desiste
De ser veste e sandália de uma essência
Tão viva, independente,
Que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
Minhas idiossincrasias tão pessoais,
Tão minhas que no rosto se espelhavam
E cada gesto, cada olhar,
Cada vinco da roupa
Sou gravado de forma universal,
Saio da estamparia, não de casa,
Da vitrine me tiram, recolocam,
Objeto pulsante mas objeto
Que se oferece como signo de outros
Objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De ser não eu, mar artigo industrial,
Peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome não é Coisa.
Eu sou a Coisa, coisamente.


(Carlos Drummond de Andrade)

Alunos 8º Ano



João Victor

Alice de Almeida

Alessandra Chitolina




Alunos do 8º Ano e Professoras Fabiana e Eliane



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